Entre livros e leitores
Aprender a ler, juntando letras a sons, sons a palavras, palavras a discursos, e recebendo do texto escrito uma mensagem que nos informa, alerta, incomoda, espicaça, seduz, aprender a ler é apenas o primeiro passo para se fazer um leitor. Primeiro e importante passo, carinhosamente dado com a ajuda do também primeiro e importante professor.
Para se continuar a formação de um leitor é preciso também um bom leitor como professor. Entre o livro e aquele que já sabe ler, vários são os que podem ajudar aquele que ainda não descobriu que a leitura pode ser um hábito e um prazer. A esses se chamam mediadores de leitura e poderíamos encontrá-los um pouco por toda a parte onde pode (e deve) haver livros, leitura e conversas em torno deles: nas casas das famílias, nas salas de aula, nas bibliotecas da escola, nas bibliotecas públicas, nos jornais, na rádio, na TV e no computador, nas livrarias, nas cidades. Com procedimentos diferentes, todos os que tenham como mesmo objectivo levar o leitor ao livro, levando o livro ao leitor, “metendo” o leitor dentro do livro e ajudando-o a sair de lá um outro leitor, maior e melhor.
Mediar leituras é respeitar os gostos do outro leitor, e ajudá-lo a compreender os meus gostos. É acompanhá-lo numa leitura que por vezes considero de gosto duvidoso, mas que cumpro integralmente, e explicar-lhe, tintim por tintim, porque não gosto daquele livro e prefiro outro, de temática semelhante. E explicar-lhe apaixonadamente porque me deixei agarrar por este livro. E pedir-lhe, a ele outro leitor, no limite da sua livre vontade de o fazer, que me explique os seus gostos.
Falar-se de um texto que se leu, porque se quis ou a isso se foi obrigado, é falar-se também de si próprio e da sua própria maneira de olhar o mundo, encontrando ou desencontrando as visões que nos livros perpassam desse mesmo mundo. Às vezes encontro bons leitores que não falam dos livros. Mas quando me dizem os livros que já leram, que andam a ler ou o que gostariam de ler a seguir, porque lhes pergunto ou dou a entender a minha curiosidade pelo assunto, sei que eles são também um modelo de leitor e que devo respeitar a sua “leitura silenciosa”. Para estes leitores silenciosos, um livro é um óptimo presente porque não só sabemos que o vão ler, como também sabemos que no-lo vão emprestar!
Para os leitores e faladores de livros, um livro é sempre não apenas um bom presente como uma boa oportunidade de convívio. Conversar à volta de um mesmo livro, muitas vezes pondo em causa que um mesmo livro diga a mesma coisa a dois leitores diferentes, é levar a leitura ao seu lugar mais alto e, no entanto, tão acessível. É só preciso encontrar quem converse connosco sobre livros, é só preciso ouvir quem fale para os outros sobre livros, é só preciso conhecer quem lê não só nas linhas mas também nas entrelinhas e nos ensine onde procurar essa matéria das entrelinhas de que o bom livro é sempre feito. É só, mas nem sempre é assim tão fácil.
Num ano que começou cheio de planos de leitura, nacionais até, convido aqueles que são bons leitores e que conhecem outros leitores, a dirigirem-se às várias casas onde vive o livro e a celebrá-lo. Se alguns têm a sorte de profissionalmente conviver com o livros e os seus leitores, como é o meu caso, todos os amadores poderão ter o prazer, e também a sorte, de encontrar nessas casas do livro os seus pares. E, melhor do que um simples profissional, dar o bom exemplo do que é ser leitor… e ter orgulho nisso!
segunda-feira, 23 de abril de 2007
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