segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Artigo do JN on-line

Livros começam a ferver

Ainda sem título em português, o novo "Harry Potter" é uma das edições mais aguardadas da 'rentrée' literária


Sérgio Almeida

A nova temporada editorial tem um vencedor antecipado à partida. Se tudo se reduz a uma questão de números e cifrões, como parece ser cada vez mais claro, o sétimo e último (?) capítulo da saga que valeu a J K Rowling o estatuto de mulher mais rica do Reino Unido deverá liderar a tabela de vendas nacional a partir da segunda quinzena de Outubro, menos de três meses depois da edição em língua inglesa.

Os pormenores exactos do lançamento continuam rodeados de elevado secretismo, desconhecendo-se ainda qual será o título adoptado ( "Harry Potter and the deathly hallows" no original) ou a tiragem inicial. Pela expectativa que rodeia o aparente final das aventuras do pequeno feiticeiro, é provável que a Editorial Presença suplante o recorde de 100 mil exemplares iniciais das derradeiras edições, aproximando-se da fasquia do milhão e meio de livros vendidos em território português.

Apetite pelas biografias

Por muito mediatismo que venha a concentrar, o livro de Rowling é apenas uma das milhares de novidades que vão disputar as atenções dos leitores. Cada vez mais, a 'rentrée' assume-se como o período decisivo do meio editorial, um pouco à semelhança do que acontece no cinema com o período pós-Oscars, durante o qual em pouco mais de um mês são exibidas as principais apostas para o resto do ano.

A oferta disponível é considerada excessiva pelos próprios editores, mas o cenário repete-se edições atrás de edições confinadas a um período de vida comercial (ou seja, permanência nas livrarias) cada vez mais reduzido, pois a voragem de publicações obriga a que os livros menos vendáveis dêem lugar às novidades.

Da impressionante listagem de obras a publicar, há conclusões óbvias a tirar. O arrefecimento da moda dos romances históricos, explorados quase até à náusea nos últimos quatro anos por força do fenómeno sem paralelo de "O código Da Vinci", é agora uma certeza, que, todavia, pode muito bem ser transitória, já que Dan Brown tem vindo a anunciar há mais de dois anos o seu próximo livro...

O protagonismo crescente do género biográfico é confirmado na presente 'rentrée', aproximando o mercado português das tendências generalizadas dos principais mercados europeus, nos quais os livros de pendor memorialístico se encontram invariavelmente em lugares cimeiros do top. A figura controversa de Salazar volta a estar na mira dos investigadores. Desta feita, é Joaquim Vieira que relata a convivência, ao longo de 35 anos, de Maria da Conceição Rita com o ditador de Santa Comba Dão.

Personalidades cimeiras como Nelson Mandela, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir protagonizam algumas das inúmeras biografias previstas, mas também não faltam livros sobre figuras da vida pública nacional, como o 'motard' Paulo Marques ou o cantor de música ligeira José Alberto Reis.

Uma das tendências dos anos recentes confirmada pela nova temporada editorial é o hiato temporal cada vez menor entre a publicação na língua original e a edição no nosso país. É certo que os três meses que medeiam a edição original de "Harry Potter" e a chegada às livrarias portuguesas constitui um recorde, mas não faltam exemplos, de Paul Auster a Joanne Harris, de autores estrangeiros que vêem os seus mais recentes livres serem lançados em Portugal poucos meses depois do lançamento no seu país de origem.

A política consensual de edição dos principais autores do catálogo no derradeiro trimestre do ano tem excepções, a mais notória das quais será a de José Saramago. O peso editorial do romancista 'exilado' em Lanzarote é tal que pode dar-se ao luxo, como normalmente sucede, de lançar um livro em Fevereiro - tradicional época baixa - sem que as vendas sejam afectadas.

Prémios contam muito

Nem só de novidades vive, apesar de tudo, o mercado. Se Ian McEwan vir confirmado o favoritismo que lhe atribuem as casas de apostas e vencer a edição deste ano do Booker Prize, a anunciar a 6 de Outubro, é provável que o seu mais recente romance, "Na praia de Chesil", publicado em Maio pela Gradiva, regresse em força às tabelas de vendas, usufruindo da atenção mediática suplementar. O mesmo se aplica ao (ainda) desconhecido escritor paquistanês Moshin Hamid, cujo notável romance "O fundamentalista relutante", publicado pela Civilização, se encontra também na 'short-list' do mais importante prémio literário em língua inglesa.

Outro exemplo paradigmático é o anúncio do vencedor do Nobel da Literatura, em Outubro. A experiência dos anos recentes, de JM Coetzee a Orhan Pamuk (o seu mais recente livro, "O meu nome é vermelho", chega agora pela Presença), diz-nos que a escolha da Academia Sueca se traduz invariavelmente numa presença obrigatória do top nas semanas seguintes, mesmo tratando-se de edições lançadas há meses.


Novas propostas de pesos-pesados"

António Lobo Antunes, Mia Couto, Agustina Bessa-Luís, Lídia Jorge Gunter Grass, Gore Vidal, Paul Auster, Rubem Fonseca... O rol de pesos-pesados que deverão ver os seus novos títulos chegar às livrarias nas próximas semanas é quase inesgotável e está longe de representar uma simples coincidência temporal. A pensar na época natalícia, pico tradicional de vendas por excelência, as editoras planeiam para a 'rentrée' as suas principais apostas, mas, por entre tantas novidades, acabam por dificultar a escolha dos potenciais leitores, já que, por entre tamanha abundância da oferta, passam despercebidos títulos válidos que gozariam de maior exposição se o lançamento ocorresse numa altura menos concorrencial.

A lista de novidades previstas para as próximas semanas poderia ser ainda mais imponente caso a Editorial Caminho, recentemente adquirida pelo empresário Miguel Paes do Amaral, publicasse o próximo romance de José Saramago, já concluído, mas que só deverá ser lançado em 2008.

Sem o aguardado livro do Nobel português, as atenções literárias nacionais centram-se em "O meu nome é legião", o 22º romance de António Lobo Antunes, com data de saída prevista já para Outubro. Adoptando a linguagem de um relatório policial, o autor de "Memória de elefante" narra o quotidiano de um bando de uma zona a que chama simplesmente de "bairro" e que tanto pode evocar áreas como Chelas como a Pedreira dos Húngaros. A análise com contornos de psicanálise do submundo nacional volta a ser a temática preferencial do singular narrador.

Presença segura nas tabelas de vendas até final do ano deverá ser também "Metamorfoses", um texto inédito que Agustina Bessa-Luís vai publicar na Dom Quixote, com ilustrações de outro nome consagrado da cultura portuguesa, Graça Morais. A nova temporada reserva ainda edições apostadas em esbater a imagem tradicional associada a alguns autores. É o caso da primeira incursão de Lídia Jorge pelo território da literatura infanto-juvenil ou o regresso de Mia Couto à poesia, o género literário em que se estreou na publicação, há mais de duas décadas.

Aguardam-se também novidades de alguns dos autores estrangeiros mais populares entre nós, como Joanne Harris ("Sapatos de rebuçado") ou Sveva Casati Modignani ("Lição de Tango"). Ainda na Asa, Paul Auster vê chegar às livrarias o seu novo romance "Viagens no scriptorium", bem como "A vida interior de Martin Frost", recentemente adaptado ao cinema.

Outubro será também o mês do lançamento da muito polémica autobiografia de Gunter Grass, na qual revela a sua passagem, durante a sua juventude, pelo contingente das SS nazis. SA



quarta-feira, 30 de maio de 2007

Serão com José Luis Peixoto e o seu «Cemitério de Pianos»

Depois de um agradável jantar, que acabou por se tornar literário quando os estômagos ficaram mais confortadinnhos com a sopa de cação, lá rumámos até à nossa BPE.
O Grupo de Leitura estava enorme! Éramos para aí uns vinte e cinco, o que contrastou com o mais recente número de alfuência às sessões regulares do Grupo. O José Luís Peixoto, como sempre, foi de uma simpatia extrema. As perguntas às vezes eram sobre o livro, às vezes sobre "os mistérios da criação literária"... Os comentários foram todos elogiosos, como seria de esperar. E deixo a quem ainda não leu o livro uma dica: Cemitério de Pianos fala-nos sobre a ternura...

segunda-feira, 23 de abril de 2007

DIA MUNDIAL DO LIVRO 2007

Entre livros e leitores

Aprender a ler, juntando letras a sons, sons a palavras, palavras a discursos, e recebendo do texto escrito uma mensagem que nos informa, alerta, incomoda, espicaça, seduz, aprender a ler é apenas o primeiro passo para se fazer um leitor. Primeiro e importante passo, carinhosamente dado com a ajuda do também primeiro e importante professor.
Para se continuar a formação de um leitor é preciso também um bom leitor como professor. Entre o livro e aquele que já sabe ler, vários são os que podem ajudar aquele que ainda não descobriu que a leitura pode ser um hábito e um prazer. A esses se chamam mediadores de leitura e poderíamos encontrá-los um pouco por toda a parte onde pode (e deve) haver livros, leitura e conversas em torno deles: nas casas das famílias, nas salas de aula, nas bibliotecas da escola, nas bibliotecas públicas, nos jornais, na rádio, na TV e no computador, nas livrarias, nas cidades. Com procedimentos diferentes, todos os que tenham como mesmo objectivo levar o leitor ao livro, levando o livro ao leitor, “metendo” o leitor dentro do livro e ajudando-o a sair de lá um outro leitor, maior e melhor.
Mediar leituras é respeitar os gostos do outro leitor, e ajudá-lo a compreender os meus gostos. É acompanhá-lo numa leitura que por vezes considero de gosto duvidoso, mas que cumpro integralmente, e explicar-lhe, tintim por tintim, porque não gosto daquele livro e prefiro outro, de temática semelhante. E explicar-lhe apaixonadamente porque me deixei agarrar por este livro. E pedir-lhe, a ele outro leitor, no limite da sua livre vontade de o fazer, que me explique os seus gostos.
Falar-se de um texto que se leu, porque se quis ou a isso se foi obrigado, é falar-se também de si próprio e da sua própria maneira de olhar o mundo, encontrando ou desencontrando as visões que nos livros perpassam desse mesmo mundo. Às vezes encontro bons leitores que não falam dos livros. Mas quando me dizem os livros que já leram, que andam a ler ou o que gostariam de ler a seguir, porque lhes pergunto ou dou a entender a minha curiosidade pelo assunto, sei que eles são também um modelo de leitor e que devo respeitar a sua “leitura silenciosa”. Para estes leitores silenciosos, um livro é um óptimo presente porque não só sabemos que o vão ler, como também sabemos que no-lo vão emprestar!
Para os leitores e faladores de livros, um livro é sempre não apenas um bom presente como uma boa oportunidade de convívio. Conversar à volta de um mesmo livro, muitas vezes pondo em causa que um mesmo livro diga a mesma coisa a dois leitores diferentes, é levar a leitura ao seu lugar mais alto e, no entanto, tão acessível. É só preciso encontrar quem converse connosco sobre livros, é só preciso ouvir quem fale para os outros sobre livros, é só preciso conhecer quem lê não só nas linhas mas também nas entrelinhas e nos ensine onde procurar essa matéria das entrelinhas de que o bom livro é sempre feito. É só, mas nem sempre é assim tão fácil.
Num ano que começou cheio de planos de leitura, nacionais até, convido aqueles que são bons leitores e que conhecem outros leitores, a dirigirem-se às várias casas onde vive o livro e a celebrá-lo. Se alguns têm a sorte de profissionalmente conviver com o livros e os seus leitores, como é o meu caso, todos os amadores poderão ter o prazer, e também a sorte, de encontrar nessas casas do livro os seus pares. E, melhor do que um simples profissional, dar o bom exemplo do que é ser leitor… e ter orgulho nisso!

quinta-feira, 19 de abril de 2007

DIA MUNDIAL DO LIVRO 2007

Aproxima-se mais um Dia Mundial do Livro. Como não podia deixar de ser, a BPE assinala mais uma vez este dia com muitas iniciativas, que incluem a apresentação do novo livro de Ondjaki, a terceira edição da Maratona de Leitura, inauguração de uma exposição e muitas mais actividades, para pequenos e graúdos, que incluem teatro, música, marionetas…



PROGRAMAÇÃO DA BPE


dia 20, Sexta-feira
21.30h>> Inauguração das comemorações do Dia Mundial do Livro >> Lançamento do Livro "Os da Minha Rua" de Ondjaki, com a presença do autor e apresentação de Zeferino CoelhoOrganização: BPE / Ler com Prazer / Caminho

dia 21, Sábado
14.00h às 24.00h>> Maratona de Leitura, dedicada ao tema "Hospitalidade" (1ª sessão)
Sessão da Meia-Noite, conversas, poesia, música, teatro, marionetas...

dia 22, Domingo
10.00h às 18.00h >> Maratona de Leitura dedicada ao tema “Hospitalidade” (2ª sessão)

dia 23, Segunda-feira
11.00h às 19.00h >> Praça do Livro, na Praça do Giraldo
18.00h>> Inauguração da Exposição «O Mundo à Minha Procura Ruben A. 30 anos depois».
Exposição promovida pelo Centro de Literatura Portuguesa - FCTAPOIO:- Instituto de Língua e Literatura Portuguesas - ILLP- Fundação Eugénio de Almeida - FEA. Ficará patente na Biblioteca até ao dia 23 de Maio

Participe na Maratona de Leitura com que vamos comemorar o Dia Mundial do Livro, nos próximos dias 22 e 23 de Abril. Inscreva-se na BPE, através de um dos nossos números de telefone, por fax, por email, ou na ficha de inscrição on-line. Diga-nos qual é a hora que mais lhe convém.
Participe nesta Maratona de Leitura e comemore connosco o Dia Mundial do Livro!
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quinta-feira, 22 de março de 2007

Foi tão bom falar a poesia!

O encontro foi passando ao ritmo das leituras e dos comentários que João Pedro Mésseder foi fazendo, encantando não só com a sua poesia - cada vez mais breve, cada vez mais abrasiva, cada vez mais sua (com o "eu" que mesmo com alguns pudores se vai desvelando) - como com os seus comentários.
A introdução feita pela Ana Margarida Ramos só veio confirmar que um bom autor merece um bom leitor. A Ana Margarida chega ao fundo dos sentidos dos versos de Mésseder, é ela mesmo uma leitora que qualquer autor deve desejar ter para o seu trabalho - com o seu conhecimento da literatura, deu-nos a conhecer a importância desta Poesia e o valor literário deste Poeta no panorama actual de Poesia portuguesa.
Eu disse que valia a pena ouvi-lo...

quarta-feira, 21 de março de 2007

JOÃO PEDRO MÉSSEDER EM ÉVORA

ÉVORA

Aproxima-te do nome
pelo sul

a vogal como a planície
ainda esdrúxula

mas o acento de nobreza já visível
no castanho das torres sobre o branco

João Pedro Mésseder